Às vezes, aqueles que você mais ama acabam sendo os mais indiferentes. Mas a vida é surpreendente: tira algo — e dá outra coisa em troca.
Meu nome é Debbie. Passei a vida tentando ser uma boa mãe — não perfeita, mas dedicada. Trabalhei como caixa em uma lojinha, guardei dinheiro para a faculdade da minha filha, ajudei como pude. Quando nasceu a filha dela — minha neta Olivia — eu fiquei radiante. Íamos juntas ao parque, ajudava em casa, levava uma comidinha gostosa ou um brinquedo para a pequena. Nunca me meti na vida particular deles — só queria estar por perto.
Mas, com o tempo, a atitude da minha filha — e principalmente do marido dela — começou a mudar. Eu ouvia irritação na voz deles. Até que um dia minha filha me disse claramente:
— Mãe, o Greg não gosta que você venha aqui. Ele acha que você não combina com o nosso círculo… e, enfim, é melhor você não nos visitar por enquanto.
Aquilo doeu. Muito. Me afastei. Não liguei mais. Segui vivendo a minha vida em silêncio.
Então aconteceu algo que eu jamais esperava. Um dos meus clientes habituais — o senhor Peters, um homem idoso, simples, bondoso — faleceu. E me deixou de herança meio milhão de dólares. Só porque eu sempre o tratei como um ser humano. Chorei, não pelo dinheiro, mas porque alguém que eu nem considerava tão próximo enxergou quem eu era de verdade.
Assim que recebi a herança, abri uma conta no nome da Olivia — para o futuro dela, para a faculdade. Comprei uma bicicleta para ela, livros, um casaco quentinho para o inverno. Mandei tudo pelo correio. Sem discursos grandiosos. Apenas por amor.
Algumas semanas depois, alguém bateu na minha porta. Era a Emily — minha filha. Os olhos inchados de tanto chorar.
— Mãe, por favor… me perdoa. Eu errei. Fiquei com medo de que a gente se afastasse de vez… Podemos esquecer tudo isso e recomeçar?
Eu a ouvi. Abracei. Perdoei no meu coração. Mas nossa relação nunca mais foi a mesma. Ficou a cordialidade, ficou o laço — mas se perdeu o calor que um dia nos uniu.
Foi então que fiz algo que nunca tinha me permitido antes: comprei passagens. Uma viagem pela Europa. Depois um cruzeiro. Abri as portas do mundo para mim. Sentei numa varanda em Nice com um livro, tomei sorvete em Praga, aprendi a fazer massa fresca numa vilazinha italiana. Senti que estava viva.
Cada compra, cada viagem — era meu jeito de dizer para mim mesma: você merece alegria. Não porque alguém te elogiou. Mas porque você existe.
Ainda amo minha filha. Ainda sinto saudade da Olivia. Mas agora entendo que ser necessário não é o mesmo que ser amado. E que é possível ser feliz mesmo na solidão. Principalmente quando dentro do peito mora uma luz.